A Prof. Luciana Almeida é formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e concluiu o Mestrado em Educação Brasileira pela mesma Universidade. Foi aprovada em concurso público da UEG no ano de 2010 e começou a lecionar na Unidade Universitária de Formosa em 2011. A princípio, deu aulas apenas no curso de Pedagogia. A partir de 2012, assumiu duas disciplinas no curso de História (Temas de Sociologia e Temas de Antropologia Cultural). Mês após mês, ganhou o respeito da maioria dos colegas combinando firmeza, habilidade e poder de convencimento. É uma das líderes mais ativas do atual movimento grevista e foi recebida ontem pelo Governador Marconi Perillo. Aproveitou a oportunidade para expor francamente todas as reivindicações do movimento. Na entrevista abaixo, ela fala deste encontro e faz considerações sobre a greve da UEG.
A
manifestação de ontem foi mais bem sucedida do que era esperado?
Sim.
Apesar de o Marconi ter enviado um forte aparato policial e ter
tentado nos calar, mandando confiscar o nosso megafone, nós
conseguimos mantê-lo em nosso poder e fizemos muito barulho com
discursos e palavras de ordem que fizeram com que o governador nos
chamasse para conversar. Essa conversa com o governador nem estava em
nossos planos, mas consideramos que estar frente a frente com o
governador foi um ganho para o movimento, pois ele demostrou que está
muito incomodado com a greve da UEG.
Como
teve início a manifestação e qual a reação de quem estava no
local?
Chegamos
ao local do Governo Itinerante com nossas faixas e cartazes. Tentamos
entrar no evento, mas formos impedidos pela polícia. De modo que,
nos posicionamos no canteiro central da rua, bem atrás do palco onde
o Marconi estava discursando. A população demostrou apoio às lutas
da UEG acionando as buzinas dos carros que passavam, assinando o
manifesto em apoio à UEG e fazendo uso da palavra no nosso megafone.
Houve
realmente repressão ou constrangimento por parte dos policiais?
Sim.
Os policiais estavam instruídos a não nos deixar entrar no local e
além disso foram instruídos a tentar nos calar. Tentaram confiscar
nosso megafone e nos ameaçaram em vários momentos dizendo que
estávamos “ofendendo” o governador e poderiam nos prender por
isso.
Como
vocês foram informados de que o Governador estava disposto a
dialogar?
O
chefe do policiamento nos informou que se parássemos de gritar as
palavras de ordem e discursar no megafone o governador iria receber
uma comissão. Nós optamos em continuar discursando e mostrando à
população as mazelas da UEG. Ainda assim ele quis falar conosco,
pois acredito que sua imagem ficou muito desgastada por conta das
denúncias que fizemos no local e ele quis ter um argumento
junto à população, para dizer então que esteve conosco.
Alguém
se opôs ao diálogo com o Governador ou todos concordaram que era
importante aproveitar a oportunidade?
Como
a proposição inicial era que nos calássemos para então falarmos
com o governador, optamos em um primeiro momento em continuar com
nossas denúncias. Ainda assim, o governador diante do incômodo que
causamos, quis falar conosco.
Como
o Governador se comportou ao dialogar diretamente com você? E o que
ele disse?
O
governador demostrou ser uma pessoa que não sabe ouvir. Ele nos
cumprimentou e já foi logo dizendo “eu não tenho dinheiro para a
UEG”. Ele queria mais falar do que escutar o que tínhamos a dizer
a ele. Eu pedi, com gentileza, que ele me escutasse, então ele
escutou. Pontuei que temos pautas protocoladas no Palácio das
Esmeraldas e que precisamos que ele sente novamente na mesa de
negociação com o Movimento Mobiliza UEG. Ele respondeu que não
sentará novamente com o movimento enquanto não pararmos de
“difamá-lo”. Eu expliquei a ele que não estamos o difamando,
mas estamos denunciando à população as precariedades da nossa
Universidade e que eu, enquanto professora efetiva da UEG, quero que
esta Universidade seja uma das melhores do Brasil e é por isso que
temos nos empenhado em discutir e sermos atendidos em nossas pautas.
O governador então pontou que repassa “religiosamente” os dois
por cento dos recursos estaduais à reitoria da UEG e que temos que
cobrar do reitor caso esse dinheiro não esteja chegando de fato para
as melhorias. Então argumentei com ele que esses dois por cento são
insuficientes para termos uma Universidade de qualidade. Ele
respondeu: “estou dando autonomia universitária pra vocês”.
Nesse momento esclareci o governador de que ele não está nos dando
nada, pois a autonomia é um processo construído coletivamente e
ainda estamos em um período inicial dessas discussões e não vamos
aceitar uma autonomia imposta. O governador “prometeu” agilizar o
trâmite do Plano de Cargos e Salários na Assembleia Legislativa.
Para finalizar a conversa ele disse que se tivermos outro governador
a UEG ficará pior do que está.
Depois
de ter ouvido o Governador, quais as suas perspectivas para o
movimento grevista?
Acredito
que é o momento de radicalizar mais o movimento. Radicalizar, no
sentido de estar na rua incomodando mais ainda o governador e
pressionando para que ele atenda nossas pautas, pois ele se mostrou
extremamente incomodado com a agitação política que promovemos.
E
na Assembleia de hoje à noite? O que você vai defender?
Eu
defenderei o que defendo desde o início da greve, que possamos
continuar pressionando o governador para que ele sente novamente na
mesa de negociação com o movimento. Mas hoje eu defendo que
possamos intensificar nossas ações de rua, pois isso incomoda muito
o governador e vai pressioná-lo a agilizar nossas pautas. Defendo
que tenhamos uma mesa com nosso manifesto em defesa da UEG na praça
central de Formosa e que possamos fazer pelo menos uma noite o velório das políticas educacionais do Marconi para a UEG em
praça pública.